Um pouco sobre a minha história

Por Admin / abril 8, 2025

imagem: Fransieli Geviewski

O que aprendi com o luto é que… não tem pra onde correr

 

Essa frase ouvi de outra mãe enlutada, e foi nesse momento que percebi: aquilo era meu. Era a minha dor, a minha história, a minha vida. Era o meu filho ali. Foi como me apropriar da realidade. Sabe aquela sensação de que tudo é um pesadelo? De algo tão estranho, tão distante e, ao mesmo tempo, tão dentro, tão presente, que é impossível colocar em palavras?

Assim descobri a solidão do luto.

E não falo da ausência de pessoas — embora sim, algumas realmente tenham saído da minha vida. Precisei retirá-las para me respeitar. Mas a verdadeira solidão do luto vem da intensidade da dor. A dor de perder um filho é tão avassaladora que muitos não conseguem permanecer ao nosso lado. As pessoas não suportam, não se imaginam naquela situação. E, por isso, se afastam. Ficam constrangidas, sem saber o que dizer. E, de fato, não há palavras…

 

Mas houve quem ficou. Houve quem chegou.

Choraram comigo. Me abraçaram. Secaram minhas lágrimas, muitas vezes em silêncio. Ensinaram-me a rezar. Chamaram-me de irmã e disseram que não me deixariam sozinha. Disseram que, no meu tempo, eu me levantaria, e que meu filho estaria sempre comigo.

O luto me obrigou a lidar com sentimentos e sensações físicas intensas. As minhas entranhas pareciam subir pela garganta. Meu peito se abriu, e eu não conseguia respirar. Meu corpo se revirou do avesso. A sensação era de enlouquecer.

Vieram dúvidas. Perguntas. E cobranças. Sim, muitas cobranças:

 

“Vamos, toca a vida!” “Esquece isso dai!” “Supera!” “Tu és forte!” “A vida continua!”

 

E aí eu me pergunto: o que é, afinal, superar a perda de um filho?

 

Sim, a vida continua. Mas como viver aos pedaços? Como viver com a presença da ausência de um filho?

Não tem pra onde correr…

Mas também sei: não estou sozinha. Somos muitas. Estamos juntas. Somos mães.

 

Precisamos falar sobre a dor das mães. Precisamos de espaços de acolhimento, livres de estigmas. Precisamos de profissionais de saúde mental com mais alma e menos teoria — para acolher a dor do luto de forma verdadeira e humana.

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